Aqui estamos

Amigos amantes do mundo, este espaço é dedicado à vocês.
Aqui relato algumas de minhas experiências em viagens, na maioria das vezes, feitas sozinha. Fatos, experiências, histórias, lugares e pessoas fascinantes que encontrei pelo caminho. E é claro, algumas precauções para uma viagem tranquila e radiante.
Também aceito dicas e experiências alheias. Trocas serão sempre bem vindas.
Beijos

sábado, 14 de agosto de 2010

Um feriado Porteño

Buenos Aires transpira e inspira romantismo. É claro que também é uma viagem para amigos e solitários, mas para os casais tem um outro sabor.
Feriado de Páscoa, programação a dois...mas para onde? A primeira opção era Campos do Jordão, mas já estava absurdamente caro, então, que tal Buenos Aires...Hoje é mais fácil e barato conhecer a Argentina do que viajar dentro do país (é preciso mais dos que as inúmeras campanhas do Ministério do Turismo brasileiro).
Há os que dizem que 3 dias em Buenos Aires é muito pouco, pode ser...mas com um mapa nas mãos, disposição e uma programação prévia, é suficiente para conhecer as atrações mais famosas, pois é uma cidade fácil de se locomover e localizar e propícia para longas caminhadas (torça por dias ensolarados).
Esta viagem foi maravilhosa, mas o desfecho foi tumultuado....Comprei as passagens pela decolar.com e dei preferência ao preço. É claro que comprei sabendo que faríamos 2 paradas, tanto na ida como na volta, mas confesso que não fiz maiores pesquisas a respeito.
A passagem de ida e volta custou R$ 691,00. Saímos de Cumbica às 15:30 (voo TAM), com escala em Ciudad del Leste e conexão em Assunção, e depois de toda essa volta, chegamos em Buenos Aires as 21:30.
Para a hospedagem, seguindo recomendações de amigos e do site hostelworld.com, escolhemos o albergue Milhouse Avenue (Avenida de Mayo, 1245, quase em frente ao Palácio Barolo). Três noites custou R$ 275,46 o casal, com banheiro privativo.
Assim que chegamos em Buenos Aires, tomamos um táxi credenciado pelo aeroporto, cujo valor pode ser pago em pesos ou dólares. O aeroporto é bem afastado da cidade e ligado por uma auto pista com velocidade controlada, mas a maioria dos motoristas são bem velozes. A nossa CET arrecadaria uma boa grana lá.
O hostel é bacanérrimo, RECOMENDADÍSSIMO. Grande, localizado em um casarão estilo francês do século XIX e bem conservado. Boa localização, a 3 quarteirões da Avenida 9 de Julho e próximo a Casa Rosada e Puerto Madero. A copa, onde serve o café da manhã, se transforma em bar e tem happy hour diariamente e, diferente de outros albergues, é permitido o consumo e venda de bebida alcoólica. No subsolo tem cozinha, sala de TV, banheiros espaçosos e bem decorados. Os quartos também são espaçosos, conservados e limpos. Melhor do que alguns hotéis 3/4 estrelas que já fiquei por aí. Sem falar do staff, super prestativo, e dos vários quadros espalhados pelo hostel com programações e dicas de atrações diárias.
Como chegamos tarde na quinta-feira, apenas fomos dar uma volta pela redondeza para sentar em um bar, comer alguma coisa e tomar uma Quilmes. Lá, assim como no Uruguai, o litrão é rei e as tapas fazem parte gratuita das copas. Fomos parar em um bar/café (há muitos cafés por lá, mas que na verdade são bares disfarçados) na esquina da 9 de julho com a Corrientes, próximo ao Obelisco. Mas acho que era um bar mais turista, até pela localização.
No dia seguinte, já com um mapa nas mãos nos programamos para conhecer 3 regiões de Buenos Aires. Tomamos um metro na própria avenida de Mayo, que mais parecia um bonde subterrâneo, e fomos rumo ao estádio do Boca Juniors, parada obrigatória principalmente para os amantes do futebol como eu. Na estação os guardas nos disseram que além do metro, era necessário tomar um ônibus para chegar ao estádio. Mas não foi tão simples assim. Quando chegamos na estação Constitucion, não encontramos o ponto do ônibus, porém fomos muito bem assistidos.
Li recentemente que os argentinos gostam mais da gente do que nós deles (gostamos deles?), e realmente acredito que sim. Um gentil policial nos encaminhou até o ponto, dizendo para tomarmos cuidado com nossos pertences e foi localizar o ônibus correto que nos levaria até o Boca. Não satisfeito, ficou conosco até o ônibus chegar e quase nos colocou lá dentro. Gratuitamente e com educação....a frase acima tem muito fundamento.
Uma dica: os coletivos argentinos só aceitam moeda, então não adianta pagar com nota pois o motorista não aceitará (1,10 pesos).
Quando chegamos ao La Bombonera, já lotado de turistas, optamos pelo tour expresso, onde você entra no estádio (em um lado da arquibancada inferior), sem guia e sem acesso ao museu. Mas para quem apenas tem curiosidade de ver um estádio/caldeirão e imaginar a sensação de estar em uma partida entre Boca e River na final do campeonato, é o suficiente.
Na loja do Boca, que fica na entrada do museu, tem de tudo, até lingerie oficial...fantástico.
De lá, fomos para o Caminito. Lotado de turistas, você é facilmente abordado por garçons e dançarinos de tango, além é claro, do sósia do Maradona que cobra para tirar fotos.
O bairro é famoso por suas cores, mas além das ruas ao redor do caminito, é sujo e mal cheiroso. Mas com certeza vale a visita.
Resolvemos seguir até San Telmo a pé. Caminhamos pelo bairro do Boca, seguindo a avenida Almirante Brown até chegar a Praça Lezama (esquina da Brasil com Paseo Colón), onde descansamos sob a suas árvores maravilhosas. Seguindo pela rua Defensa, você chega até a Praça Dorrego. No caminho passa por várias lojas de antiguidades e decoração, ponto forte do bairro e por várias livrarias. Na praça há muitas mesas colocadas pelos restaurantes da redondeza, perfeita para almoçar nos dias com temperaturas mais agradáveis. Os restaurantes proporcionam pratos executivos, com entrada (empanadas, que por sinal são deliciosas), prato principal, bebida e café, com direito a show de tango ao ar livre, em preços bem acessíveis.
Após o almoço, continuamos caminhando pela Paseo Colón, quando chegamos até Puerto Madero. Andamos muito...mas vale a pena se você gosta de boas caminhadas e principalmente de descobrir os detalhes da cidade que não estão nos guias.
Para mim, o lugar mais lindo da cidade é sem dúvida, Puerto Madero. Os docks antigos, foram reformados e se transformaram em lojas e restaurantes requintados. Os bancos, a Puente de la Mujer, os iates ancorados e os imensos e modernos prédios localizados do outro lado do rio da Prata, fazem desse lugar uma obra prima.
Sentar em uma mesa, tomar um bom vinho e ver o pôr do sol é uma ótima pedida.
Em seguida, fomos para a Casa Rosada, bem próxima do porto, mas como estava fechada, sentamos na praça de Mayo para um último descanso, antes de terminar nosso primeiro passeio pela capital portenha.
Seguindo pela Avenida de Mayo, você passa pelo Café Tortoni, o mais antigo da capital, que tem apresentações de tango e servem as típicas sobremesas argentinas. A fila para entrar estava imensa.
A noite, após as dicas de um recepcionista do hostel fomos para Palermo. O mais fácil é tomar um táxi, que costumam ser muito baratos e circulam por toda a cidade o dia todo, e descer na Placita Serrano. Na própria praça tem várias opções de bares e restaurantes, com mesas internas e ao ar livre, bem como em todo o bairro. Os restaurantes/cafés/bares ficam um ao lado do outro.
Escolhemos uma mesa, na verdade a única vaga, e pedimos um Malbec argentino (Trapiche - muito gostoso) e uma pizza (64 pesos no total). Para comer bem em Buenos Aires não é necessário muito dinheiro e nem restaurantes suntuosos. Para curtir o resto da noite, fomos dançar. Nos indicaram uma casa chamada Kika, localizado na rua Honduras, a 3 quarteirões da Serrano. Lugar bacana, com dois ambientes e com um público mais jovem, se não me engano o preço da entrada era 40 pesos. Há milhares de danceterias na redondeza, é só escolher. Oficialmente, as portas abrem as 11 da noite, mas o povo só começa a entrar depois da 12:30.
No dia seguinte fomos para o lado oeste da cidade. Seguimos a Avenida 9 de julho até a Plaza Libertad, que vale um pit stop pois é muito fofa, e já no bairro da Recoleta, pela rua Guido (cheia de edifícios residenciais charmosos) chegamos ao Cemitério. Parece um passeio mórbido e sem graça, mas na verdade suas criptas são verdadeiras obras de arte. Não esperem muito da tumba da Evita, que morreu como Perón, mas foi enterrada como Duarte. Para o desespero da minha mãe, tive que utilizar o banheiro do cemitério (necessidade irrevogável), que além de macabro é bem escondidinho.
Saindo do cemitério, passamos pela Basílica Nossa Senhora do Pilar e pela Buenos Aires Design, um grande centro comercial de decoração com objetos interessantes e autênticos. Em seguida, uma paradinha na Plaza Francia, onde aos sábados, domingos e feriados tem uma feira bem diversificada.
Atravessando a Avenida Figueroa Alcorta, fomos a Plaza de las Naciones Unidas onde está a Floralis Generica, uma gigantesca e maravilhosa escultura feita de aço e alumínio, em forma de flor. Seguindo pela Avenida del Libertador, encontramos o Museu de Belas Artes, a Biblioteca Nacional, a Faculdade de Direito e mais praças.
Continuamos nossa caminhada com destino ao bairro de Palermo, pela longa avenida Las Heras, passamos pela praça com o mesmo nome, terminando no zoológico e jardim botânico. Antes de chegar ao Zoo, mais exatamente a um quarteirão, fica o museu Eva Peron. Não chegamos a entrar no museu, a fome era tanta que preferimos entrar no restaurante da esquina (rua Lafinur, 3006) e degustar uma parrilla argentina. La Josefina é um requintado e elegante resto porteño que merece ser apreciado com delicadeza. Pedimos uma tábua de carnes que serve perfeitamente 2 pessoas e um litrão de Stella Artois (121,00 pesos).
Satisfeitos, continuamos a caminhada com a intenção de visitar o zoologico, mas desistimos. Dizem que é interessante, se estiverem dispostos vale a pena. Ao lado do Jardim Botânico, na Plaza Itália, tomamos o metro e voltamos para o hostel para descansar antes de mais uma noite em Palermo.
Depois de 2 dias de temperaturas super agradáveis (usando bermudas tranquilamente), a noite esfriou. Resolvemos ir até Palermo de metro, pois descobrimos que a estação Plaza Italia fica a alguns quarteirões da Plaza Serrano, seguindo pela rua Jorge Luis Borges.
Já que a temperatura caiu, preferimos um bar mais fechado e quentinho. O Malasartes fica ao redor da Serrano e é propicio para dias assim, além de ter um atendimento de primeira. Pedimos vinho, claro, mas dessa vez, a noite mereceu 2 garrafas (momento divã: simplesmente amor).
O domingo amanheceu preguiçoso. Estava frio, apesar do céu azul e do sol radiante. Então curtimos uma caminhada mais tranquila e sem pressa. Pela avenida de Mayo, chegamos até o exuberante Congresso Nacional. No sentido inverso da avenida, chegamos a Plaza de Mayo, Catedral Metropolitana e a Casa Rosada, que estava aberta para visitação guiada (e gratuita). Não há muito a ser visto, algumas salas, como a da Presidência e das Mulheres Argentinas (homenagem a todas que marcaram a história do país), os pátios internos e a famosa sacada, palco de grandes pronunciamentos... Adivinha se não rolou um momento Evita!
Depois é claro, voltamos para o Puerto Madero, aproveitar o dia ensolarado para sacar as últimas e inspiradoras fotos. Aquele lugar vale vários repetecos!
Antes de voltar ao hostel, passamos pela rua Florida, famosa por seus comércios, principalmente de artigos de couro e pela Galeria Pacífico, localizada em um edifício da belle époque portenha. Por fim, sentamos um pouco em um dos bancos da bela praça de San Martín, onde os argentinos se reunem em grandes eventos e comemorações, como na derrota histórica para a Alemanha nesta Copa.
Se a viagem tivesse terminado aí, seria perfeita, mas muita coisa aconteceu depois.
Nosso voo estava marcado para as 22:25, pela Pluna (se possível evitem essa companhia), com escala em Punta del Leste e conexão em Montevideu. Tratando-se de um voo internacional, solicitei ao taxista que nos levasse direto ao aeroporto Ezeiza, por onde chegamos. Chegando lá, fiquei preocupada quando não localizei nosso voo na tela. Agora, quando o mocinho do balcão de informações nos disse que aquele voo (o nosso) não saia daquele aeroporto e sim do outro (localizado no extremo oposto da cidade), estressei de vez.
Já disse que o aeroporto internacional fica bem afastado da cidade e, além de pagar 138 pesos a mais de táxi nessa brincadeira, nosso tempo estava começando a ficar escasso. Os motoristas já aceleram normalmente na auto pista, imagina então quando exigi que o taxista corresse. Nesse caso, sorte nossa!
Quando chegamos no Aeroparque (aeroporto doméstico que fica a apenas 15 minutos do centro da capital), a menos de 1 hora da decolagem, fomos informados no checkin que o voo estava atrasado. Ai consegui respirar mais aliviada, sem imaginar o que estaria por vir.
Informações sobre os aeroportos: apesar de ser uma rota internacional, todos os voos com destino ao Uruguai, seja Montevideu ou Punta, saem do Aeroparque e não de Ezeiza, em decorrência da curta distância e da grande frequencia. Pena que só descobri isso bem tarde.
Voltando... a moça do checkin também mencionou a necessidade de retirarmos as bagagens assim que chegássemos ao aeroporto de Punta. O motivo ficou meio confuso de entender e mesmo achando estranho, concordei.
Nesse momento, já estávamos cansados, com sono e fome. Quase uma hora depois do horário, conseguimos embarcar para Punta. No voo estávamos nós e mais 3 passageiros, parecia um jatinho particular.
Depois de 1 hora de voo, chegamos ao aeroporto de Punta (deserto), e como solicitado, retiramos as nossas malas e fomos em direção ao checkin da Pluna. Surpresos (e preocupados) ficamos quando vimos todos os balcões fechados. Aí, vi que a única sala aberta e acesa, era a loja da Pluna. Fomos até lá, quando ao mostrar o cartão de embarque para Montevideu, fomos informados pelo funcionário que o "voo" que comprei era na verdade, uma passagem rodoviária. E o pior, o mesmo senhor nos disse que isto sempre acontece com os brasileiros, ou seja, somos enganados pelas empresas de turismo.
É claro que enviei uma reclamação formal a decolar.com. Tive alguma resposta? Não, portanto NÃO RECOMENDO este serviço. Não imaginava que a distância entre Punta e Montevideu fosse de apenas 2 hrs de ônibus, além do mais, na nossa confirmação de voo enviada pela decolar, não constava que tratava-se de uma passagem rodoviária neste trecho.
Além do cansado e do estresse, fiquei insuportavelmente furiosa e indignada, e ainda por cima, por ser quase 1/2 noite, não havia táxi no aeroporto. Outro detalhe importante: o horário do nosso "ônibus" era 4:45 da madrugada, ou seja, tínhamos que esperar 5 horas naquele lugar vazio e gelado.
Acredito que o funcionário da Pluna ficou tão sensibilizado que se moveu para conseguir adiantar o nosso embarque até Montevideu. Fez umas ligações e nos incluiu no próximo ônibus.
Ah, só que é claro que o motorista do ônibus não iria se disponibilizar a entrar no aeroporto e nos "resgatar" na porta. Tivemos que ir até a rodovia e espera-lo em um lugar super ermo. Isso sem contar o frio congelante.
O ônibus também chegou atrasado e não havia mais espaço no bagajeiro para as nossas malas. Tivemos que carregá-las conosco para dentro do veículo. Sabe aquela famosa lei da física que diz que 2 corpos não ocupam o mesmo lugar no espaço. Pois é, Newton foi um gênio!
Além disso, era um ônibus da COT (aquela empresa que descrevi na postagem sobre o Uruguai) e super pinga-pinga, parava de 5 em 5 minutos...Dava para dormir?!
Chegamos no aeroporto de Montevideu (enfim), umas 2:30 da madrugada e o nosso voo para SP estava marcado só para as 12:35 p.m. (nunca mais compro essas promoções micos). Fui até o checkin da TAM (pois era por essa cia que estava marcado a nossa volta) para tentar antecipar o retorno. Outra surpresa! o mocinho me disse que o nosso voo não era TAM e sim Pluna (aiaiaiai....não tinha mais forças para a fúria).
Acontece que o balcão da Pluna ainda estava fechado e enquanto isso, ficamos vagando pelo aeroporto a procura de um lugar para deitar e tentar dormir um pouco. O aeroporto de Carrasco é lindo, novinho, mas apesar de suas poltronas serem chiques, não são nada eficientes. Só encontramos bancos funcionais para uma dormidinha, no mezanino. Como estava insuportavelmente frio, não conseguimos.
O checkin da Pluna abriu apenas 1 hora e 1/2 antes do voo e só conseguimos ser atendidos 30 minutos antes do embarque. Já morimbundos, conseguimos antecipar o voo, pagando uma "singela" taxa de 100 dólares.
Acontece que além disso, tivemos que pagar taxa de embarque (cobrada extra passagem nesse aeroporto) de 62 dólares e lidar com a falta do papel de declaração de entrada no país, que não nos foi dado. Nisso, a funcionária da Pluna estava nos apressando, namorado resolvendo a questão da declaração e eu pagando mais uma taxa.
Sempre ouvi aquelas vozes nos aeroportos chamando as pessoas atrasadas para embarque imediato, mas nunca imaginei que pudesse ser uma delas. Foi assim, fomos "dispensados" da declaração, na verdade passamos direto pela alfandega uruguaia e seguimos literalmente correndo até o portão de embarque, acompanhados de uma funcionária da companhia. Assim que sentamos no avião, decolamos. Pelo menos, conseguimos dormir duas horinhas!
Chegamos em SP cansados e mau humorados!! Agora da para entender porque comecei a minha publicação sobre o Uruguai dizendo que tinha que desfazer a primeira má impressão?!
Apesar de todos esses acontecimentos, a viagem a Buenos Aires foi maravilhosa. Deu tudo certo no final. Foi mais uma super aventura!
Como disse um certo alguém: "Há coisas na vida que deveriam durar para sempre. Aquele final de semana em Buenos Aires é uma delas". Amei, recomendo e volto com certeza.







































quarta-feira, 4 de agosto de 2010

O Uruguai no inverno

Tive uma passagem rápida pelo Uruguai em abril de 2010, quando voltava de Buenos Aires, e para desfazer uma má impressão, resolvi voltar, agora com mais tempo e dedicação.
Comprei uma passagem relativamente barata pela Gol, com escala em Porto Alegre (R$ 340,41 ida e R$ 141,72 volta, sem taxa de embarque, cobrado lá no aeroporto de Carrasco) e reservei 6 noites em um albergue no centro de Montevidéu, é claro, com banheiro privativo.
Eu e uma amiga embarcamos no dia 30 de julho, inverno gelado no Brasil e frio insuportável no Uruguai! Li que a temperatura estaria entre 8 e 9 graus, mas ao chegar em Montevidéu senti o que é realmente frio. Sob uma temperatura de 4 graus e rajadas de ventos, Uruguai me deu boas-vindas.
Antes da viagem, como sempre, busquei informações sobre o país e entre elas, li que os homens uruguaios são muito bonitos e relativamente fáceis. Assim que cheguei no aeroporto, vazio, avistei 2 semi deuses. Já me empolguei!!
Como chegamos de madrugada, a melhor opção (única na verdade) era tomar um táxi até o hostel e para agilizar o processo e não mais adiar o sono, utilizamos o serviço credenciado no aeroporto. É claro que saiu mais caro (480 pesos uruguaios), mas aceitam dólar, pesos, cartão e até real.
No caminho até o hostel, além de me assustar com os termometros, pude ver uma cidade elegante, com casas estilo americano e extremamente charmosas, além do rio da prata, que os uruguaios adoram chamar de mar.
O Hostel El Viajero Downtown, localizado na calle Soriano, próximo a Cidade Vieja, é agradável, com quartos e banheiros limpos, ao contrário da cozinha. O staff é simpático e prestativo, principalmente o gigante Sebastian, mas há poucas informações sobre a programação local (talvez porque não haja programação de inverno). Preço total da hospedagem: 5.000 pesos (aproximadamente 245 dólares) para duas pessoas.
É claro que esse frio todo não nos impediu de conhecer a cidade. No sábado, com um mapa e um guia na mão, saímos para caminhar e explorar. A partir da Plaza da Independência é possível caminhar pela Cidade Velha na peatonal (caminho de pedestre) Sarandí, que parte da Puerta de la Ciudadela e termina no rio da Prata. Durante essa caminhada é possível ver o Museu Torres García, o Cabildo de Montevidéu, a feira de artesanato, a Plaza Matriz, o Templo Inglês e o Museu da Palavra. Por fim, uma vista do rio.
Passagem e parada obrigatória é o Mercado del Puerto, cheio de restaurantes com a autêntica parrilla uruguaia, bem mais exóticas que as argentinas e é claro, que as nossas. Mas vale a pena o risco...Também não deixe de experimentar "medio y medio", uma mistura de champagne e vinho branco, bastante consumida no país.
Antes de sentar em uma das inúmeras mesas, ainda disponíveis, do mercado para degustar a parrilla, resolvemos dar mais volta pela Ciudad Vieja. Ao sair do mercado, vimos uma muvuca estranha. Jovens gritando, correndo, cobertos de farinha e ovo. Em princípio achamos que fosse comemoração de aniversário (pelo menos aqui é nessas ocasiões que esta cena acontece, entre os adolescentes é claro), mas não era bem isso. Afastada do movimento com medo de tomar uma ovada, ouvi que tratava-se da comemoração de conclusão do curso de medicina.
Mais algumas fotos e tempos (e ventos) depois, já com muita fome, voltamos para o Mercado para almoçar. Neste momento, encontrar uma mesa foi mais complicado já que os "fedidinhos" médicos também estavam com fome (os ovos não foram suficientes). Escolhemos um restaurante (são praticamente iguais) e solicitamos uma mesa. Na espera, degustamos mais um copinho de medio y medio (sedente por cerveja na verdade).
Assim: os paulistanos são exigentes por natureza e mal acostumados. Temos os melhores restaurantes, todas as opções e um serviço de excelência. Isso tudo é muito bom, mas temos que deixar um pouco de lado quando estamos dispostos a conhecer e experimentar a cultura alheia (pena que nem todos fazem isso). O atendimento demorou um pouco e o mais interessante, há um costume de compartilhamento. Essa coisa de molhinho único por mesa não existe. O chimichurri (molho picante a base de azeite e alho, com salsinha, óregano e páprica) é delicioso e tem que ser experimentado, mesmo que antes tenha passado por várias colheres diferentes. Se o seu nojo é excessivo e incontrolável, feche os olhos, mas não deixe de experimentar.
Claro, pedido obrigatório - churrasco. Pedimos o prato para 2, com saladinha e pão, acompanhado de uma Patrícia, uma das deliciosas cervejas uruguaias. Quando a parrilla chegou, quase me perdi no meio das carnes (não identificáveis). No prato, ou melhor, na grelha, tinha um bifinho e uma linguicinha normais, pimentão, chinchulin e morcilla (conto o que é no final). Gosto muito de assistir o programa do Andrew Zimern na Discovery, mas não tenho a metade da coragem dele para experimentar coisas exóticas. Deixei a morcilla e o chinchulin de lado, quem sabe para uma próxima vez, apesar de que depois que fiquei sabendo do que era feito, acho que nem depois...
Depois de muita carne e Pilsen (a Skol mais encorpada deles), voltamos a caminhar para fazer o processo digestivo. Nesse momento, o mercado continuava lotado, só que quase exclusivamente de melecados médicos (até que tinha uns pegáveis).
Dica: não saia na rua, durante o inverno uruguaio, apenas de moletom...casacos, cachecol, luvas e toquinha são imprescindíveis! Ah, leve também óculos de sol e guarda-chuva. Quem mora em SP está acostumado a carregar esses objetos sempre na bolsa.
Para trocar dinheiro, vá até a Avenida 18 de Julho, no centro e não entre na primeira casa de câmbio. Vale a pena pesquisar. Os valores mudam de um lugar para o outro. O melhor câmbio que achei foi na Regul (Av. 18 de julio, 1126), próximo a Plaza Cagancha.
Depois de muito andar, já escuro em Montevideu (isso acontece por volta das 18 hrs no inverno), voltamos para o hostel. Ducharse e descansar para a balada, enfim era sábado...
Também tinha lido que na Ciudad Vieja (próximo ao hostel) a noite fervia, mas acho que quem escreveu isso só conhecia a cidade no verão. Enfim, fomos a pé (frio insuportável) até o bar-balada (alias, danceteria lá se fala boliche) El Pony Pisador (várias recomendações). Esse horário, umas 11:30 p.m., as ruas já estavam bem vazias, então resolvi acelerar o passo. Sem problemas, mas cuidado, apesar de Montevideu ser considerada uma das cidades mais seguras da América do Sul, mulher (es) sozinha(s) é abordada e até seguida...
Quando chegamos no bar, ainda havia mesa disponível (uma única), pedimos uma cerveja para começar. Um adendo sobre a cerveja: lá, não é costume beber long neck e copo, latinha então é peça de museu, o negócio é LITRÃO....Na verdade, bebe-se muito litrão (Pilsen, Patricia, Norteña e Zillertal), mas a praticidade pede uma garrafa tamanho normal. E é assim na balada: você não chega no balcão e pede uma cerveja, esperando algo singelo. Tem que ter força, disposição e muito equilibrio para andar no meio do povo e dançar, segurando o litrão (no caso o casco com 960 ml de líquido cevado). Ah, sem falar nos uruguaios, que adoram piropos (xavecar) as brasileiras, mas demoram para engatar uma segunda...piropo daqui, piropo dali....
El Pony Pisador é o lugar! Uma das melhores baladas que já fui (contando as inúmeras visitadas aqui em SP). No começo, sentadinha, tomando umas e ouvindo a bandinha uruguaia tocar rock e outras coisas mais (o vocalista álias podia tocar na minha banda, ops! mas não tenho uma). Depois do efeito coletivo do litrão, recolhem-se a banda e as mesas e todo mundo começa a dançar ao som do DJ. Sabe aqueles lugares totalmente ecléticos, principalmente no estilo musical. Este é o lugar: relativamente pequeno (para chegar ao banheiro tem que subir uma infinita escada), lotado de uruguaios (não encontrei outros estrangeiros perdidos), o que é bom, pelo menos para mim, gente bonita (corroborando com a reportagem sobre os uruguaios) e divertido acima de tudo. Lá, eu dancei rock, axé, samba, funk, salsa, sertanejo (João Bosco e Vinícius) e a dramática (e mexicana, desculpe a redundância) música uruguaia.
Eu simplesmente sou tarada por homem que sabe dançar e não tem vergonha de mostrar. E melhor, foi uma surpresa! Não tinha ligo em lugar nenhum esse dote uruguaio. Eles cantam, eles encenam e dançam muito. Me acabei....aprendi vários passos e dancei muito. Fora o litrão...É ou não é a melhor balada!? Pelo menos para quem gosta de diversão, com certeza.
Se as 11 da noite a cidade já estava quase deserta, imagina as 5 da manhã!!!
Nem preciso mencionar que não conseguimos acordar a tempo de desayunar. O Ministério da Saúde adverte: o litrão derruba...literalmente.
O domingo parecia ainda mais gelado. O vento faz com que a sensação térmica seja muito inferior a temperatura real, que já era 5/6 graus.
Como no dia anterior tínhamos andado a 18 de julio inteira, resolvemos tomar um ônibus dessa vez. É muito fácil utilizar esse meio de transporte. Tem bastante opção, dependendo da linha são limpinhos, confortáveis e acima de tudo baratos. Lá o preço varia de acordo com o percurso, quanto menor, mais barato. Por exemplo: a linha Ciudad Vieja até Terminal Tres Cruces, que passa por toda 18 de julho, custa 10 pesos (1 real). Ah, e o passageiro pode descer tanto por trás, quanto pela frente, pois não há cobrador e roleta.
Nesse dia, fomos até o Estádio Centenário (feio, mal tratado e fechado), passando pelo Parque J. Batlle y Ordoñez, próximo a famosa e extensa avenida Itália, caminho para o aeroporto. Posso afirmar que o Sr. Artigas (herói da independência e deus dos ventos - título nosso), foi bem generoso nessa região.....Puta frio !!!! Onde os ventos se concentram...
Para tentar aquecer os dedos petrificados, fomos almoçar. Lugar fechado, ar quente, comidinha (com refrigerante dessa vez). Fomos em uma das lojas La Pasiva, uma rede famosa de restaurantes uruguaios. Lá você encontra de tudo...Gostoso!!! Vale a pena. Ravioli + refrigerante + pão + café = 176 pesos ou 18 reais.
Respiramos fundo e fomos enfrentar o frio novamente, enfim, desbravadoras sempre enfrentam os obstáculos. Descemos a Avenida Gal Artigas, onde fica a embaixada brasileira (avenida muito bonita por sinal) e chegamos até o Parque Rodó, onde tem uma feirinha até as 16 hrs, um lago com pedalinhos, exposição ao ar livre e gente louca (cuidado, você pode ser abordado por uns alienígenas ou coisa do gênero). Sério, vale a pena a visita, mas fiquem atentos a sua volta.
Na saída do parque em direção ao rio, de uma passada no Cassino, pelo menos para conhecer (mochileiros: deixem seus pertences na chapelaria). Em seguida, tentamos seguir pela Rambla Presidente Wilson, beirando o rio, mas o vento quase nos derrubou.
Já voltando para o hostel, passamos no supermercado Disco, que só perde para a rede Ta Ta, e compramos Norteña (no mercado a garrafa de 1 litro custa 46 pesos com envase, na balada de 80 a 90).
A noite tentamos ir na Fun Fun, uma casa de música uruguaia, localizada na rua Ciudadela, mas como não encontramos (ponto fraco de Montevidéu: dificuldade de encontrar placas com nome das ruas), fomos a um Pub "The Shannon", localizado na Bartholomeu Mitre, 1318 - Ciudad Vieja. Música muito boa (ao vivo), assim como a pizza.
Na segunda aproveitamos para conhecer Punta del Leste, a 2 hrs de ônibus (145 km) de Montevidéu. Também é muito fácil se locomover no país. Há muitos ônibus intermunicipais que saem constantemente do Terminal Tres Cruces, localizado no subsolo do Shopping com o mesmo nome. As passagens também tem preços bem acessíveis, para Punta por exemplo, o valor é 144 pesos (15 reais). Para se ter uma idéia, uma passagem de SP a Americana (132 km) sai R$ 29,00.
Há 2 empresas que fazem esse trajeto: Copsa e Cot. Fomos nessa última, mas torçam para não ser a vez do "podrinho". A companhia tem ônibus novos, mas ainda mantem os antigos circulando e para nosso azar, só andamos nesse.
As partidas são pontuais, as estradas razoáveis e a viagem, consequentemente tranquila. Punta no inverno estava as moscas. É muito bonita, com construções megas, mas é feita para o verão. Não há nada para fazer fora da alta temporada. Valeu para conhecer, principalmente o porto, com seus fabulosos iates e o monumento La Mano (famoso dedinhos), localizado na Praia Brava. Não chegamos a conhecer a Casa Pueblo, em Punta Ballena (cerca de 1/2 hora de Punta), que dizem ter a melhor vista do pôr do sol. Fica para a próxima!
Almoçamos em outra rede uruguaia famosa - Il Mondo della Pizza (Avenida Gorlero - a mais famosa de Punta), mas como tudo lá em Punta é mais caro, pagamos 220 pesos o chivito (sanduíche de mignon) e 140 o litrão da Pilsen (total: 36 reais).
Punta é pequena e você consegue ver quase tudo em poucas horas, principalmente no inverno. Como fica localizada no estreito entre o Atlântico e o Rio da Prata, venta muito o que nos incentivou a voltar para Montevideu mais cedo.
No dia seguinte fomos a Colonia do Sacramento, a cidade mais antiga do Uruguai, descoberta em 1680 e declarada Patrimônio Cultural e Natural da Humanidade. Fica a 2 hrs e 45 minutos de ônibus da capital. Novamente tomamos um coche no Terminal Tres Cruces e por 179 pesos você faz um passeio em direção ao sudoeste do país. O interessante é que Colonia está a apenas 50 km de Buenos Aires e esta viagem pode ser feita de Ferryboat pelo Rio da Prata.
Existem 3 opções de empresas rodoviárias (COT, Turil e Chadre). Devido a experiência com a Cot (lembra do podrinho?), fomos de Turil. Você pode comprar passagem de ida e volta e deixar essa com data e horário em aberto, com validade de 60 dias.
Próximo a Colonia já enxergamos as estancias coloniais, estilo Texas e Novo México, com vastos campos....muito lindo.
Colonia é uma cidade pequena, mas aconchegante. Tem a parte mais nova (isso significa uns 300 anos) e a Ciudad Vieja, colonizada por portugueses. O Terminal de ônibus fica próximo a Avenida Gal Flores (principal), que seguindo chega ao bairro antigo, com ruas de pedras e construções do século XVII.
O gostoso é caminhar pela cidade velha, mas cuidado com torções....se esta não for sua opção favorita, existem carros de golf e triciclos que podem ser alugados.
Começando pela Puerta de Campo você obrigatoriamente tem que passar pela Calle de los Suspiros, Plaza Mayor, Farol de Colonia, ruínas do antigo Convento de São Francisco, Igreja Matriz e Bastion del Carmen. No final do passeio, sente (ou deite) nos banquinhos espalhados pelos mirantes ao longo das margens do rio, e curta a vista....É maravilhoso.
Lá sim vale a pena passar uma noite. Não vi, mas acredito que o pôr do sol seja fascinante.
Para almoçar tem uma opção barata na esquina da Gal Flores com a Ituzaingó, o Mercosur. Lá aceita pesos uruguaios, argentinos, dólar e real, só não aceitam cartão. Há também a opção da rede La Pasiva na mesma rua Gal Flores.
Saímos de Colonia as 18 hrs e assim que chegamos a Montevideu, parada obrigatória no Ta Ta para a compra do último litrão...na verdade, resolvemos fazer a noite do vinho (Tannat é claro) e para completar, pãozinho quente e cream cheese, enfim era meu aniversário....
Nosso voo de volta ao Brasil saia às 5:50. Optamos por não dormir (difícil!!!). Tomamos o táxi às 3 (alta velocidade) por metade do preço da chegada e tranquilamente esperamos o horário do regresso. Ah! não esqueçam de guardar 36 dólares para pagar a taxa de embarque lá no aeroporto.
Adorei o Uruguai. O povo é maravilhoso, solícito e simpático. O país é fofo e acolhedor. O que mata é o frio, principalmente para nós que não estamos acostumados. Mas como disse o taxista, tenho que voltar no verão.
Ah, já estava me esquecendo...Morcilla é sangue de vaca coagulado (o nosso chouriço) e chinchulin é instestino fino....Aceita provar?